Sunday, June 10, 2007

DORMINDO AO FRIO

I
Dormindo a primeira noite ao frio
Tremendo tanto, ficando esgotado
Perdendo as forças, ficando sem brio
E sentindo mesmo, muito magoado

II
A noite ficava cada vez mais escura
O Sol desaparecera, mas a Lua não vinha
Sem uma esperança, nem uma ternura
Que lhe enchesse a alma, quando caminha

III
A solidão chegava, com muito horror
Vento soprava, aumentando a dor
A noite avançava, como um terror
Tudo gelava, ali ao redor

IV
A madrugada chegava aliviando a dor
O galo cantava, anunciando o calor
Do novo dia com muito amor
E o Sol surgia, com muito valor

V
Mais um dia se passava
Mais outra noite se aproximava
Mais frio à brava
Mais um galo se cantava

VI
Mais uma noite ao relento
Vendo tudo muito lento
Só estrelas no céu correndo
Deixando rastos se desfazendo






VII
Deitado num colchão de papelão
Sem mais nada, nem sequer um pão
Nem agasalho, roto ali no chão
Vivendo toda aquela maldição

VIII
Deixar a casa, deixar a família
Fugir dali, pondo-se a milha
Pobre de espírito, bendito filho
A fugir dos pais, para outro trilho

IX
Vivendo suplícios, vivendo em bandos
Juntamente com outros malandros
Sujos, mal cheirosos, sempre roubando
Ora pedindo, nem sempre encontrando

X
Lembrou-se da primeira noite, fora de casa
No gelado da rua, ao frio que abraça
Num canto deitado, ao vento que passa
Sem nada, com fome, nem uma carcaça


XI
Lembrando da casa, com tudo um pouco
Lembrando dos pais, ficando atormentado
Lembrando os irmão, ao calor do fogo
Volta para casa, correndo como um louco

22.03.04
Danvieira

A CHUVA DO NIMBO

O sentir a vida em sossego, o saborear dessa oportunidade presenciando uma chuva a desprender-se das negras nuvens do Céu que abaixaram com o efeito e, consequentemente, regam os campos onde tudo vai nascer e verdejar para a felicidade de uma sociedade comum, alimentando os sonhos dos que se encontram entre os mais diversos seres da natureza.

Novamente o ciclo se repete alimentando um outro sonho, com novas chuvas, novas esperanças e novas lidas, são as profecias que as ramagens dos altos cirros indicam dando mais oportunidades com mais chuvas e a repetição de tudo passado como também o chocalhar das árvores, o cantar dos pássaros, um gemido ou uivar dos cães que, de bem longe sentem o aproximar dessa esperança.

SETEMBRO DJA BEM

I

Tchuba dja tchobi
Bordolega pâ tudo cabo dja tem
Nôs guentis nhôs ôbi
Ma Setembro dja bem



II

Ê grogo na boca
Ê Tchuba na costa
Na planta mandioca
Na tudo encosta



III

Midjo cu fijon dja nâce
Tchuba tudo dia qui manche
Ê lama lâ fora na strada
Ê caminho na rotcha qui straga



IV

Nu pêga enxada na mó
Câ decha padja passano
Pâ nu câ bem mondal cu mó
Si nu cré cumida ês ano


1988
Danvieira

O SOSSEGO DO CAMPO

É no sossego do campo, no chocalhar das folhas das árvores, no cantar dos pássaros, voando sobre nós, que a vida se prime pela sua excelência desse próprio viver…

E no campo o viver é assim! Com o punho cerrado e a enxada na mão, ouvindo o borbulhar das águas correndo entre pedras alimentando o milheiral que nasce ao lado de outras ervas, o florescer das plantas que enchem o vazio desses lugares cultivados para uma esperança e uma ansiedade febril para uma colheita que enche a vontade de um pobre pecador em obtê-lo assim desta maneira.